Adolescentes não têm apoio para lidar com redes sociais, diz pesquisa

By Anton Morozov

Vivemos uma era em que as redes sociais se tornaram parte central do cotidiano. Entre curtidas, compartilhamentos e stories, adolescentes mergulham em um universo que exige presença constante, ainda que isso muitas vezes venha acompanhado de cobranças emocionais, comparações excessivas e até crises de autoestima. O problema começa quando percebemos que, apesar dessa imersão digital precoce, muitos desses jovens não têm estrutura para lidar com as pressões desse ambiente, e, pior ainda, não contam com o suporte necessário de adultos ou instituições.

O impacto das redes sociais sobre adolescentes vai além do entretenimento. O conteúdo consumido e produzido por eles influencia diretamente na formação da identidade, nas relações interpessoais e até na saúde mental. Há um desequilíbrio evidente entre a liberdade com que esses jovens navegam nas plataformas e a ausência de orientação sobre como lidar com críticas, exposição pública e padrões inatingíveis de vida e aparência. Essa lacuna torna o ambiente online um território hostil para muitos, principalmente quando não encontram apoio em casa ou na escola.

Enquanto pais e professores muitas vezes desconhecem as dinâmicas das redes, os adolescentes vivem um conflito interno entre querer pertencer e sofrer com os efeitos desse pertencimento. A falta de diálogo sobre os efeitos emocionais do uso contínuo das plataformas cria um abismo entre gerações. Sem uma escuta ativa, os jovens acabam recorrendo a influenciadores ou colegas que também enfrentam as mesmas inseguranças, criando um ciclo sem fim de desinformação e solidão digital.

A ausência de políticas públicas eficazes também agrava esse cenário. Apesar do crescimento acelerado da presença online entre menores de idade, faltam estratégias que considerem a realidade brasileira e ofereçam suporte psicológico, orientações de uso consciente e programas educativos. As escolas, quando tocam nesse assunto, fazem de forma superficial, muitas vezes com foco apenas em segurança digital e não no impacto psicológico profundo que a exposição constante pode causar.

O sentimento de inadequação tem se tornado um companheiro frequente para muitos adolescentes conectados. Ao observar a vida aparentemente perfeita de seus ídolos digitais, muitos acabam se sentindo frustrados por não atingir padrões irreais. A cobrança para produzir conteúdo, se posicionar ou manter uma imagem digital positiva pesa mais do que deveria sobre ombros ainda em formação. E, sem um espaço seguro para falar sobre isso, esses sentimentos se acumulam até se tornarem insuportáveis.

Além disso, a cultura da comparação permanente, reforçada pelos algoritmos das redes, afeta diretamente a autoestima e a autopercepção dos jovens. Muitos medem seu valor pessoal com base em métricas como curtidas, comentários e seguidores, o que gera uma falsa sensação de pertencimento. A realidade é que muitos estão tentando encontrar sua identidade em um ambiente que valoriza mais a performance do que a autenticidade.

Famílias e educadores precisam se envolver de forma ativa nesse processo. Não basta restringir o tempo de uso ou monitorar o que é acessado. É necessário conversar, entender o que os adolescentes sentem ao navegar nas redes e oferecer um espaço onde eles possam expressar seus conflitos sem julgamentos. O acolhimento e a escuta ativa são ferramentas poderosas para que eles aprendam a usar a internet como um recurso e não como um peso.

Por fim, é urgente repensar como estamos preparando os jovens para lidar com um mundo que, embora digital, é real em suas consequências emocionais. A falta de apoio nessa fase pode ter efeitos duradouros, comprometendo não só a saúde mental como também a construção de uma identidade segura. O desafio não está em impedir o acesso às redes, mas sim em garantir que esse acesso venha acompanhado de preparo, empatia e diálogo constante.

Autor :Anton Morozov

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